Quarta, 17 de Setembro de 2025

MP denuncia policiais por tentativa de homicídio contra motoboy em Santos; relembre o caso

Denúncia contra os PMs ocorre no âmbito da Operação Escudo, que deixou 28 mortos. Motoboy Evandro Silva foi baleado e jogado de um prédio.

17/09/2025 às 21:46
Por: Redação

O Ministério Público de São Paulo denunciou três policiais militares por tentativa de homicídio contra o motoboy Evandro Silva. O caso ocorreu durante a Operação Escudo, que resultou em 28 mortes, segundo dados oficiais das forças de segurança. A operação foi iniciada após a morte de um policial na Baixada Santista, em julho de 2023, e teve duração de 40 dias.

Em 30 de agosto de 2023, os policiais invadiram o local de trabalho de Evandro, uma pequena empresa de entregas no Morro do José Menino, em Santos, litoral sul paulista. Os agentes já haviam revistado o motoboy, que informou ser egresso do sistema prisional.

Evandro estava no banheiro quando foi atingido por um tiro de calibre 12, disparado da rua por um dos policiais através da janela. Ele então quebrou uma janela, pulou e caiu de uma altura de 7 metros sobre uma pedra. No local, foi novamente baleado com tiros de pistola e dado como morto. Ele acordou apenas quando o socorrista do SAMU foi verificar seu estado.

Segundo Evandro, os policiais se surpreenderam ao ouvirem o socorrista gritar: "agora ele está conosco". Ele só acordou no hospital duas semanas depois.

O caso ganhou destaque após a divulgação de imagens das câmeras corporais dos policiais, que mostram que Evandro não estava armado e não esboçou reação, contrariando a versão apresentada pelos policiais.

O processo segue sob segredo de justiça, assim como as outras 21 investigações sobre mortos e feridos durante a operação. 17 delas foram arquivadas, e duas resultaram em cinco policiais réus.

Em setembro de 2024, um relatório da Universidade Federal Fluminense (UFF) apontou falhas graves nas investigações da Operação Escudo.

Em nota à Agência Brasil, Evandro disse que ele e sua família receberam a notícia da denúncia contra os policiais e esperam que os agentes sejam responsabilizados.

“É impossível não lembrar de tudo o que passei, da dor, do medo e da luta para sobreviver. Essa denúncia não apaga o que vivi, mas significa que a minha voz foi ouvida e que a verdade começa a ser reconhecida”, afirma Evandro.

Ainda segundo Evandro, “sobreviver já foi um ato de resistência”.

“Ver agora a Justiça se mover é uma esperança de que minha dor não será em vão e que os responsáveis serão, possivelmente, responsabilizados. Eu falo não apenas por mim, mas por todas as famílias e vítimas que sofreram com a violência policial e que muitas vezes ficaram em silêncio, sem respostas”.

Evandro agradeceu o apoio de diversas pessoas e entidades, como as Mães de Maio, Conectas, Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública e Ministério Público.

“Que esse passo abra caminho para que ninguém mais precise passar pelo que passei. Justiça não devolve o que foi perdido, mas é o mínimo para que possamos acreditar em um futuro de respeito e dignidade”, concluiu Evandro.